O Cãozinho de Entrecampos

Há um cãozinho que costuma passear a dona de vez em quando em frente ao edificio-sede das tropas. Nunca soubemos o nome do cãozinho, mas desde o primeiro dia que houve uma atracção da nossa parte -o cão nunca nos ligou puto...
O primeiro a sentir o chamamento que o bicho parecia emitir em ondas só para nós foi, está claro, o Agente da Higiene, que prontamente baptizou o cão:
- Se eu tivesse um cão assim, chamava-o Paneleiro! Ou Caralho! E depois na rua, gritava por ele "Ó Caralho" eh - eh - eh
O resto do grupo riu-se, provavelmente mais pelo pensamento manhoso do que por o comentário ter tido piada em si, e passou a ver o cão muito mais vezes, para deleite de todos.
O cão, deixem-me explicar, é um espectáculo de bicho, todo ele pêlo e desdém. Não é nenhum boulivier nem nenhum rottweiler branco, mas há nele algo de majestoso e de soberano. Tem um pêlo cor-de-areia e cinza claro, muito bem penteado, com volume digno de uma afro dos anos 70, parece sempre acabado de sair de um cabeleireiro onde lhe fizeram uma "tease" magnífica, perfeita. Um autêntico casaco de peles que faria inveja à Fatima Lopes. E quase como uma surpresa, no meio de tanto pêlo surgem uns olhinhos espertos, um pequeno narizinho e uma linguinha cor-de-rosa pálido. Ficamos encantados com o focinhinho do espécime, mas quando vem aquele desejo de o chamar, só recebemos desprezo. Ele adora passear -perdão, exibir- o seu casaco de peles, vaidoso e convencido, tanto como adora ignorar-nos.
Um belo dia, Jukebox vê o cão a passar, e, invadido por um desejo paternal, chama-o:
- Bxx bxx bxx, gatinhooo...
- Responde aos meninos, "eu não sou um gatinho" - ri-se a dona, e explica-nos que já uma criança naquele dia tinha confundido o cãozinho.
Jukebox não dá abébias:
- É siamês, não é?
- Não - responde a mulher, simpática - É um Spitz, um Lulu da Pomerânia!
- Ahh - Jukebox acena, entendido, e lança um elogio sentido: - Lindo gatinho!

A mulher e o cão nunca mais apareceram naquela zona.